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sábado, 20 de março de 2010

VELHOS TEMPOS


Dizem que o tempo não passa
Que ano a ano se renova,
Como um mate em cuia nova
Que nos deixa a alma curtida.
-De amores, curtindo a vida,
Com seu calor decisivo,
Só deixa o adeus na cancela
Da mocidade que é bela,
Bebendo o mate do estribo.

E só a saudade é o sinuelo
Daqueles bons velhos tempos,
Reculutando os momentos
De ansiado e fútil retorno.
Longíquo é o passado morno
Remendado a palhativos!
Recados que se esqueceram,
Velhos umbus que morreram.
Junto aos sonhos primitivos.

Surro ao petiço maceta
Deste meu verso angustiado
Lembrando aquele passado
De auroras que eu vi nascer,
Para que alegre vá correr
Nos rodeios pátio a fora.
Lá um piá, de chapéu torto,
Vendo o olhar do capão morto
Vai chorar num pé de amora.

Dizem que o tempo não passa
Que ano a ano se renova,
Como um mate em cuia nova
Vai deixando a alma curtida.

Lindo tempo, olhar vidrado,
Bem sangrado hoje esperneia
Quando a saudade se apaeia
Frente ao galpão dessa Estância.
Rebenqueados de distância,
Vejo os dias que se vão,
Como os sonhos do índio vago
Que tropeiam pelo Pago
Nessas noites de clarão.

Tempo velho que até assusta
Quando chove e faz goteira.
Lá mui longe, olho a porteira
Que o vento sul derrubou
Junto ao amor que se planchou
Numa cruz de cemitério.
Minhas rimas, soluçando
De saudade, vão matando
A voz do vento gaudério.

Lá vão os calmos bois da pipa

Repechando no tranquito.
E, do açude, eu ouço o grito
Dos tordilhos quero-queros,
Meus amigos mais sinceros
Que esquecer deles não quis
Só a saudade acende a braba
Do calor daquela casa
Onde, um dia, eu fui feliz.


Ah, tempo velho arcaico.
Que vai tostando as macegas,
E o fruto dos pega-pegas
Pelos rincões espalhando,
Quanto mais vou te achatando
Nestes pobres versos meus,
Fico velho! Ah, tempo gajo.
Que me atormenta o presságio
Dessa velhice do adeus!



Letra de Edilberto Teixeira e música de Edilberto Teixera Neto. Chamamé.

Obs: biografia do compositor postada dia 21/04/2010.

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